quarta-feira, 20 de abril de 2011

100 SURA



Vinicius Nagem

Éramos tão bobos,
Que não chegamos a enxergar
Onde a maldade se escondia
Nos olhos dos puxa-sacos
Na desculpa vazia
Privaram nossas vidas
da força da criação
Destruindo nossas virtudes,
Colocando a inocência
No caixão
Pura inveja
Fratura exposta
Do mais sórdido sentimento humano
Cheira a bosta...
Desce pelo cano
Entra-se pelo cano
Pelegos a vomitar ódio
Na busca da criatividade singular
Para sobreviver
Nunca a terão
Estão fadados a permanecerem
Eternamente ... deitados no chão
Pisoteados
Tapetes, capachos
À sombra de alguém
Que nunca os enxergou
Quando você é visto
Incomoda,
É duro ser lembrado
Melhor ser esquecido...
Melhor ser presente,
Ou passado?


ORÁCULO



Vinicius Nagem

Perdendo segundos
Sempre a renovar
Passando minutos
Todo dia está
Uma hora vai,
toda noite cai,
ciclo que recria a luz.

Tempo, tempo de mudar
Muda o tempo de ficar
Roda a vida sem parar
Tudo muda e o tempo... mudo

Fale agora o que vai ser
Mostre onde vamos chegar
Você sabe onde tudo vai acabar
O futuro não virá
Se o presente não seguir
Dê um tempo
para o tempo,
existir.

CIENTIFICISMO POÉTICO


                                                                  
Vinicius Nagem

Não se faz poesia como antigamente,
Uma moça na janela a inspirar,
O sonho de um encontro promitente,
Na garrafa de leite no batente,
Todo o som parecia ter sabor,

Agora estou aqui, sentado num bistrô,
Aberto o laptop em sintonia universal
Posso não ter pena, nem papiro, nem jornal
As palavras seguem a lógica atual
Mudou a forma ou mudou a informação?

Quem um dia poderia imaginar
Ao invés de sintonia com o luar
O poeta estivesse em comunhão
Com o celular, google e avião
E o tempo já não custasse a passar...

Em telas planas, desafio a imensidão
Ouço sons sintéticos, não mais o coração
Os ícones não buscam a fé, somente relação
Sonetos sem espaço, a rigidez é crônica
A batida , compassada, eletrônica

Onde buscar o lampejo da criação
Se os postes já não possuem lampião
O horizonte está bem além do espigão
Até o futebol perdeu a sua essência
E o romantismo pulou a janela de transferência?

A poesia está doente, os poetas não
Cabe-nos ressuscitar o que sobrou no chão
Reinventar o amor e recriar paixão
Protagonizar uma nova ciência
Cientificismo poético, essa é a missão.

COPACABANA

                               

Vinicius Nagem


A madrugada tem seu cio
lânguida
cianureto, veneno das bocas, beco das garrafas
escorrendo pelos batons desfeitos
caras, desafetos, olhares de neblina
faróis de milha
neons, neons, neons
posto 5
E o endereço ?
Todos temos a última pizza
o derradeiro gole
no bar da esquina, a fechar
portas pesadas
poetas, cabeças batendo nas calçadas
legião de vagabundos, mendigos
a revirar caixas de papelão
Copacabana
princesinha do mar,
amar
galetos, prostitutas, Lido
velhos generais de pijama
funcionárias públicas - simpáticas - aposentadas
a descer dos seus poleiros
com seus cachorros confidentes
caixões descem,
caixões sobem,
caixas de papelão ficam
mendigos de pé
saltos nas ruas
Ah! Saltos!
É 6 o posto
Travestis em trajes mínimos
trajetórias contíguas
calcinhas, silicones, soutiens
perucas louras, pincéis
retrato ilusionista...
Atletas enfartados
esbarram-se nas calçadas
atropelam  carros
gasolina com perfume
manhã nascendo, sol no Marimbás
litros e litros de chopp
urina noturna
e o perfume ?
valas negras
As rosas de Iemanjá batem na areia
quanta loucura
e e, nadando no mar
sem dizer nada de tí
Copacabana
inferno e paraíso
rito de nascer e morrer
fechar de olhos, abrir suspiros
deitar de dia e rolar na madrugada
real e majestoso prazer
princesinha do mar.

OUSADIA

                                                      

Vinicius Nagem

Quanta ousadia existe,
Em viver o que precisa ser vivido
Em não ter medo do inusitado
Em querer descobrir o passado
Em não temer o futuro...
Quanta ousadia existe
Em ser mulher e amante
Amante da vida
Do espaço de si própria
Da descoberta do próprio desejo
Adormecido...
O tempo nos faz mais ousados
Porque nosso caminho é menor
Os riscos são proporcionais
Ao que ainda não vivemos
A ousadia se cria
E existe
E subsiste
E se forma
E transforma
Tudo aquilo que não seria
E o que nunca será
Como antes
Igual a amanhã
A ousadia tem um caminho
A felicidade...
De poder dizer pra si mesmo
Aquilo que se fez
Aquilo  que se tentou
Tentou... tentação
Pode ser que sim
Pode ser que não
E como a vida não tem replay
O momento é o que fica
Como uma tarde chuvosa
Como alguns anos, intactos
Como beijos na boca, na sala
Como gritos de amor, no quarto
Como tudo antes
E depois
Uma vida ousada
É o mínimo que se espera
De alguém que quer ser feliz
A vida não tem replay, nem bis
É uma só
E quando se chega ao fim
Existe uma conclusão
O pior velho
É aquele que não tem estórias para contar...

SÓ A COMPANHIA

                                                 
Vinicius Nagem

Todos vieram do pó,
E para o pó irão,
Já dizia o traficante de plantão
Tribo dos sem terra,
E dos sem pó,
Uns por convicção,
Outros por opção,
Todos para o pó irão,
Menos eu,
Certeza que sim,
Mais você,
Afirmo que não,
Feito papagaio de pirata,
Blond ilusão,
Num programa televisivo,
De qualquer manhã ou estação
Corre que lá vem bala,
Fica pra comer o bolo,
Feito a pão de ló,
Acorda para o mundo,
Escravo de Jó,
Receita de sucesso para ser vivida
Sob a égide dos sem nexo,
Alguns para chegar ao su,
Terão o sexo,
Todos vieram do pó,
E para o pó irão,
Cabeça de matéria
Na última edição
O aparato é global,
(ou não?)

VOU VOAR


Minha primeira postagem neste espaço é uma música feita em parceria com a Ana Sônia, que retrata a decisão de voar.
A poesia é um vôo pelo infinito da alma.
Todo dia decidimos se iremos voar ou não...

VOU VOAR

Letra: Vinicius Nagem
Música: Ana Sonia

Vou voar,
Tendo asas, falta caminhar
Tendo passos, falta a direção
Sem medo, na contramão

Vou voar,
Tendo ondas, falta ver o mar
Tendo espelhos, falta ver a luz
Onde isso me conduz?

Esperei,
Esse momento, esperei
Sair do ninho, para ousar
e decidir voar

Duvidei,
Cada minuto, duvidei
Imaginar que poderia estar
mais leve que o ar...